Homenagem ao Arq. e Urb. Severiano Mário Porto
19 de fevereiro de 2015 |
Severiano Mário Porto
“Severiano tinha apenas cinco anos de idade quando seus pais anunciaram que se mudariam para o Rio de Janeiro. Ele, que nascera em 19 de Fevereiro de 1930 em Uberlândia, MG, era filho de Mário de Magalhães Porto e Maria de Lourdes Vieira Porto, educadores pouco tradicionais, que buscavam revolucionar o ensino no Brasil.
A mudança para a capital não fora por acaso. Mário e Maria de Lourdes haviam sofrido uma certa repressão ideológica em Minas e migraram para o Rio buscando o ambiente propício para suas inovações.
O Rio de Janeiro era o berço cultural do Brasil. As ruas, repletas de estrangeiros, expiravam diversidade e liberdade de expressão e havia uma crescente adesão ao movimento moderno. O nacionalismo da Era Vargas intensificava a busca pela essência brasileira, liderada por Tasila do Amaral e Mario de Andrade.
Nesse contexto, Severiano cresceu e estudou. Influenciado por pais idealistas e apaixonados por educação, contou com um ensino abrangente, que considerava as artes como parte essencial do aprendizado. Severiano e sua irmã, Calota, tiveram até aula de musica, mas ele, apaixonado pelo desenho, logo decidiu ser arquiteto.
Severiano ingressou na Faculdade Nacional de Arquitetura e fez bons amigos, que se tornariam seus futuros parceiros profissionais. Era membro da famosa Turma do Barulho, composta por alunos críticos e muito responsáveis, mas que adoravam aprontar brincadeiras nas horas vagas. Morriam de rir ao assistir colegas tentando pegar as moedas que soldavam no chão e já foram até flagrados tomando banho na caixa d’água da escola.
Fez parte do Clube de Excursionistas e praticava muitos esportes como natação, polo aquático e alpinismo. Naquele tempo, o grupo já tinha visão ecológica e senso questionador e Severiano não hesitava em candidatar-se para pequenos cargos administrativos dentro do seu curso.
Graduou-se em 1954 e continuou trabalhando na Construtora Ary C. R. Brito por cerca de 11 anos. Neste período, o país estava em crescimento e passava pelo Plano de Metas de JK. O mercado absorvia toda a mão-de-obra qualificada, e a arquitetura brasileira tinha reconhecimento internacional. A cultura aflorava em diversas áreas e, ao som da Bossa Nova, nomes como Afonso Reidy e Oscar Niemeyer se consagravam.
Na década de 60, a política do Brasil era de desenvolver seu interior, principalmente após o golpe militar, e profissionais qualificados começaram a ser requisitados em diversas partes do país. O Governador do Amazonas, Arthur Reis, havia sido vizinho de Severiano no bairro de Botafogo e pede para ele faça o projeto da Assembléia Legislativa de Manaus.
Em 1964, Severiano voa pela segunda vez para a cidade e se apaixona. O local, ainda pouco desenvolvido, contava com a presença da floresta exuberante e de homens que se relacionavam intensamente com a natureza. O projeto da Assembléia, que nunca saira do papel, abriu portas para ele explorar e transformar sua arquitetura.
Severiano passou dois anos entre Manaus e Rio, envolvido em obras como o Estadio Vivaldo Lima e alguns edifícios institucionais, até decidir levar a família para a cidade.
“Moramos no Hotel Amazonas por três meses até papai terminar de construir nossa casa. Ela era toda de encaixes em madeira, o que agilizou muito o processo.
Ninguém entendeu muito bem a decisão dele, de morar em um banho. Na época, se pensava que homem morava em cidade”
Mario Porto, filho, 2015
A primeira residência da família Porto foi na Rua Recife, 1762. Neste mesmo sítio, Severiano apropriou-se de um salão separado da casa, para ser seu local de trabalho. Quatro ou cinco pranchetas decoravam o ambiente e seus projetos voavam de Manaus para o Rio, aonde mantinha um segundo escritório, gerenciado por Mário Emílio Ribeiro.
O tempo passava e ele ganhava cada vez mais intimidade com aquele ambiente. Aprendeu com o homem nativo, técnicas construtivas em madeira e formas de se relacionar com a floresta. Diversos tipos de projetos surgiam e Severiano, sempre muito estudioso, imergia em cada um deles.
Antes de projetar, pesquisava muito. Viajou o mundo ao lado de sua esposa e companheira Gilda, visitando obras e observando soluções empregadas em diversas situações. Estudava a natureza e a cidade, pesquisava materiais e buscava referências em programas arquitetônicos de projetos já concluídos. Não baseava sua arquitetura em escolas estilísticas, mas sim nas relações que esta estabelecia com o meio ambiente.
“Seus projetos saiam sempre na última hora. Não que ele estivesse a toa até aquele momento, mas, pelo contrário, estava observando, adquirindo e digerindo informações. Quando o prazo se aproximava, virava muitas noites até colocar tudo no papel e, como era muito correto, não admitia atrasos ou falhas.”
Rosane Porto, nora, 2015
Em 67 construiu o restaurante Chapéu de Palha, premiado pelo IAB. A este projeto, com estrutura circular coberta por “telhas” de palha encaixadas sobre ripas de madeira, dedicava um carinho especial. A obra já demolida, era um exemplo de como a simplicidade formal sugeria as tradições e origens locais.
No início da década de 70, construiu sua segunda casa, também na Rua Recife.
“Era uma casa muito bonita, com um jardim de inverno que ocupava grande parte do primeiro andar. A escada era de madeira vermelha, rústica e fechada por um cobogó de concreto. Lembro de papai sentado na sala, observando o efeito da luz entrando pelos tijolos de vidro amarelo.”
Mario Porto, filho, 2015
Os anos seguintes foram de muito trabalho e dedicação. Projetou cerca de 300 obras, sendo algumas consideradas grandes exemplares da arquitetura brasileira. Recebeu diversas premiações, tanto por seus projetos individuais quanto pelo o conjunto de suas obras e seu papel enquanto arquiteto.
Dedicou-se também ao ensino de arquitetura por cerca de 30 anos e era um professor exigente, mas inspirador. Sua paixão pela educação, originada por seus pais, era explícita em suas aulas, cuja dinâmica incorporava prática projetual à academia. Foi homenageado inúmeras vezes por suas turmas da UFAM e, mais tarde, da UFRJ.
Hoje Severiano mora em Niterói. Alguns anos atrás, foi diagnosticado com Alzheimer e já apresenta um quadro bastante avançado. Apesar da doença ter apagado a maior parte de suas memórias, Severiano ainda possui aquele mesmo olhar, profundo e distante, de quem percebe o mundo de uma forma diferente. Ele observa, nos mínimos detalhes, a beleza daquilo que nos envolve, respira fundo, pega sua gaita e transforma em música. E sua harmonia se mistura delicadamente ao ambiente, assim como fez sua arquitetura”.
Paula Porto – arquiteta e neta de Severiano Mário Porto
2015
Gostaria de contactar com o Arquiteto Severiano Mário Porto, sob re o Projeto Arquitetônico da Nova Santa Casa de Misericórdia de Manaus.
Clausdivan Carvalho, 92 98229-8831, 99283-2988
santacasamanaus@hotmail.com
“Severiano representa um livro sempre aberto que nos entrega com todas suas impressões de genialidade uma obra que soube-se curvar à potência do seu entorno e ao pensar caboclo, sua vanguarda arquitetônica soube ressaltar um pensamento de um homem só, sofisticado para sua época, humilde na sua materialidade, grandioso desenhador da técnica. Atemporal que o tempo se empezinha em apagar… esse tempo definido pela autofagia, a depredação… da imposição do ordinário e sem sentido.
A obra de Severiano se apresenta ainda valente e emblemática de um tempo que parece não ser entendido, ela está inerme justamente pela falta de compreensão da verdadeira dimensão que ele soube dar a seus objetos. A obra de Severiano Porto comove na sua presença, na sua depredação e na sua ausência.”
“A História viva de uma arquitetura com identidade, e por que não dizer, inerente a nós profissionais. Severiano soube como poucos demonstrar que sua lapiseira era realmente a extensão de seu corpo, traçando sua vontade, sua percepção e sua alma. ao Mestre com carinho, parabéns pelo seu aniversário.”
DEUSDEDITH MONTEIRO DE CASTRO FILHO
Sou Engenheiro Civil, mas tive o privilégio de ser discípulo do Mestre Severiano Mario Porto na Universidade do Amazonas, na disciplina Arquitetura e Urbanismo. Era um Mestre amigo dedicado, e criativo. Por vezes nos levava a sua casa, na Rua Recife, onde ministrava aulas práticas de um modo criativo. Era uma personalidade criativa e cativante. Deixou em Manaus obras que são testemunho de sua passagem por nossa cidade.
Mestre Severiano, receba nossas homenagens.
Obrigado pela contribuição.
Boa tarde.
Tive o prazer de trabalhar alguns anos com o arquiteto Severiano Mario Porto, em seu escritório no Rio de Janeiro.
Me orgulho muito de tê-lo conhecido e aprendido muito com este grande mestre da arquitetura. Além de ótimo arquiteto, é uma excelente pessoa, amigo, ótimo chefe!
Homenagem mais que merecida!!
Agradecemos pela contribuição.